Estratégias de coping frente às situações de estresse e burnout docente
- Adelar Sampaio
- 25 de nov. de 2020
- 4 min de leitura
Atualizado: 26 de nov. de 2020
Vários fatores podem induzir os professores ao estresse excessivo e a situações de mal-estar (burnout). No que diz respeito às estratégias as estratégias de enfrentamento (coping) utilizadas por docentes, é importante conhecê-las, pois, as mesmas podem ser um fator de proteção e intervenção sobre as adversidades da docência.
Sobre o coping, alguns autores utilizam como referência, o termo “enfrentamento”. Contudo, autores compreendem que o termo coping não pode ser traduzido do inglês, pois a Língua Portuguesa não possui um termo capaz de abranger a complexidade da palavra coping. Outros autores compreendem que o significado do termo coping se aproximaria das expressões “lidar com” ou “enfrentar situações de estresse” (PIETROWSKI; CARDOSO; BERNARDI, 2018).
O coping costuma ser definido como o grupo de estratégias utilizadas por um indivíduo visando à adaptação a situações estressoras. Está relacionado à interação entre o indivíduo e o ambiente e sua função é auxiliar na percepção e avaliação do estímulo estressor e mobilização de esforços cognitivos e comportamentais para minimizar ou reduzir as demandas internas e externas que surgem como ameaçadoras para o indivíduo (ANTONIAZZI et al., 1998).
Alguns autores dividem as estratégias de coping em duas categorias funcionais: coping focalizado na emoção e coping focalizado no problema (MORENO et al., 2011). Outros autores compreendem que existem três grandes categorias de estratégias de coping: com foco no problema, na emoção ou na evitação (CARLOTTO; MELO, 2016; FOLKMAN; LAZARUS, 1980).
1. Coping focalizado no problema ou controle
Pode ser compreendido como o movimento de ação do sujeito para enfrentar a situação que desencadeou o estresse. Essa estratégia busca modificar a relação do indivíduo com o ambiente estressor. Estudos apontam que quanto maior for o uso das estratégias de coping com foco no controle (problema), maior capacidade de reflexão sobre as situações geradoras de estresse no trabalho docente e maior a possibilidade de adotar medidas de enfrentamento adaptativas, e de conseguir sucesso na tomada de decisões capazes de solucionar os estressores enfrentados, auxiliando assim a atingir suas metas (PIETROWSKI; CARDOSO; BERNARDI, 2018).
Os estudos de Carlotto e Câmara (2008) constatam que as estratégias de coping com foco no problema são estratégias positivas, as quais auxiliam o profissional a enfrentar os problemas que surgem dentro de seu ambiente organizacional. Esse tipo de coping aumenta os níveis de realização profissional.
2. Coping focalizado na emoção
Costuma ser definido como uma tentativa de regulação das emoções associadas ao estresse visando à diminuição do desconforto físico que o mesmo ocasiona. As estratégias de coping com foco na emoção podem ter efeitos adaptativos (positivos) ou desadaptativos (negativos). Quando as estratégias utilizadas possuem como objetivo diminuir os sentimentos desagradáveis e desmotivadores, possibilitam a utilização de estratégias de coping com foco no problema, elas são consideradas positivas. Já nos casos em que o coping focado na emoção gera sintomas que podem prejudicar a resolução de problemas, como sentimentos de culpa, ele é considerado negativo (PIETROWSKI; CARDOSO; BERNARDI, 2018).
Estudos compreendem que as estratégias de coping focadas na emoção podem trazer prejuízos aos indivíduos quando buscam apenas uma forma de alívio dos sintomas e não a resolução da situação estressora (HIRSCH et al., 2015). Mesmo com opiniões divergentes sobre as estratégias de coping com foco na emoção, cabe ressaltar que uma meta-análise recente a qual teve acesso a uma amostra de 9,729 participantes, evidenciou que as estratégias de coping com foco na emoção estão diretamente relacionadas as três dimensões da Síndrome de Burnout: exaustão emocional, despersonalização e baixa realização pessoal (SHIN et al., 2014).
3. Coping de evitação
Pode ser compreendido como toda a tentativa de se esquivar da situação estressora. O estudo de Braun e Carlotto (2013) constatou que os professores com maior nível de desgaste psíquico, indolência e diminuição do trabalho foram aqueles que fizeram uso da esquiva como estratégia de coping. Mazon et al. (2008) apontaram que quanto mais os professores tentam não pensar no problema, ou seja, utilizam a estratégia de coping de desligamento mental, maiores são os índices de exaustão emocional. O estudo de Carlotto e Câmara (2008), no que diz respeito aos docentes de escolas públicas, destaca que quanto mais eles fazem uso de estratégias de esquiva, afastamento e fuga, maior é sua exaustão emocional. Já a despersonalização, tende a aumentar quanto mais são utilizadas estratégias de afastamento. Constata-se um consenso na literatura de que as estratégias de coping de evitação costumam gerar efeitos negativos nos profissionais da educação (PIETROWSKI; CARDOSO; BERNARDI, 2018).
Quer saber mais? Podemos ajudar sua equipe ou sua instituição a desenvolver ainda mais estratégias de coping com efetividade, personalizadas à Educação.
Conheça o ‘Programa de Apoio ao Bem-estar Docente’ ou faça um contato.
Adelar Sampaio é idealizador do Programa de Apoio ao Bem-estar Docente, doutor e mestre em Educação pela PUCRS.
Referências
ANTONIAZZI, A.S.; DELL’AGLIO, D.D.; BANDEIRA, D.R. O conceito de coping: uma revisão teórica. Estudos de Psicologia, 3(2):273-294, 1998.
BRAUN, A.C.; CARLOTTO, M.S. Síndrome de Burnout em professores de ensino especial. Barbaroi, 39:53-69, 2013.
CAPELO, M.R.T.F. Vulnerabilidade ao estresse, coping e burnout em educadoras de infância portuguesas. Educar em revista, 64:155-169, 2017.
CARLOTTO, M.S. Síndrome de Burnout: diferenças segundo níveis de ensino. Psico, 41(4):495-502, 2010.
CARLOTTO, M.S. Síndrome de Burnout em professores: prevalência e fatores associados. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 27(4):403-410, 2011.
CARLOTTO, M.S. Prevenção da síndrome de burnout em professores: um relato de experiência. Mudanças – Psicologia da saúde, 22(1):31-39, 2014.
CARLOTTO, M.S.; CÂMARA, S.G. Síndrome de Burnout e estratégias de enfrentamento em professores de escolas públicas e privadas. Psicologia da Educação, 26(1):29-46, 2008.
FOLKMAN, S.; LAZARUS, R.S. An analysis of coping in a middle-aged community sample. Journal of Health and Social Behavior, 21(3):219-239, 1980.
HIRSCH, C.D.; BARLEM, E.L.D.; TOMASCHEWSKI-BARLEM, J.G.; ALMEIDA, L.K.; FIGUEIRA, A.B.; LUNARDI, V.L. Estratégias de coping de acadêmicos de enfermagem diante do estresse universitário. Revista Brasileira de Enfermagem, 68(5):783-790, 2015.
MORENO, F.N.; GIL, G.P.; HADDAD, M.C.L.; VANNUCHI, M.T.O. Estratégias e intervenções na síndrome de Burnout. Revista de enfermagem da UERJ, 19(1):140-145, 2011.
PIETROWSKI, D.L.. CARDOSO, N.O.; BERNARDI, C.C.N. Estratégias de coping frente à síndrome de burnout entre os professores: uma revisão integrativa da literatura nacional. Contextos Clínicos, vol. 11, n. 3, Setembro-Dezembro 2018.
SHIN, H.; PARK, Y.M; YING, J.Y.; KIM, B.; NOH, H.; LEE, S.M. Relationships Between Coping Strategies and Burnout Symptoms: A Meta-Analytic Approach. Professional Psychology: Research and Practice, 45(1):44-56, 2014.
Comments